Blog

Uma porta se abre

date
Oct 9, 2023
slug
uma-porta-se-abre
author
status
Public
tags
Carreira
Aprendizagem
Vida
Blog
summary
Psicólogo servidor público 30+ quer mais da vida e se percebe sem opções de crescimento na carreira de 8 anos. Com a ajuda de amigos, arrisca um curso online de programação nas horas vagas, e percebe que gosta disso.
type
Post
thumbnail
porta-se-abre.jpeg
category
Blog
updatedAt
Feb 5, 2024 11:58 AM

Introdução

Sobre

Escrevo aqui um relato pessoal da minha jornada da Psicologia para a Programação. Essa jornada será separada em 4 artigos diferentes. Tentarei transmitir tanto as experiências, emoções e “dramas” dessa trajetória, quanto destacar e referenciar materiais e projetos técnicos. Escrevo tanto para quem não sabe de tecnologia, quanto para quem já trabalha na área.
Escrevo para quem pensa em trocar de carreira, mas não começou uma caminhada. Escrevo para quem já está caminhando. Escrevo para quem não me conhece, e para os poucos que me conhecem também. Escrevo para que, quem sabe, esses textos possam motivar alguém.
Tenho muitos agradecimentos a fazer ainda (vou guardar para o final). Mas o principal deles dedico à todas as pessoas que narraram suas jornadas antes de mim, sejam em blogs, podcasts ou redes sociais. Graças a vocês, ousei sonhar com o que achava que era impossível.

Resumo para pessoas ocupadas (ou ansiosas)

Psicólogo servidor público de 32 anos quer mais da vida e se percebe sem saída em sua profissão de 8 anos. Com a ajuda de amigos, arrisca um curso online de programação nas horas vagas, percebe que gosta disso, faz mais dois cursos ao longo de 2023. Hoje, está contratado em uma empresa de tecnologia como Programador Júnior (opa soltei um spoiler!)

Links para os outros artigos

  1. Uma porta se abre - Você está aqui!
  1. Dentro da Matrix
  1. Afiando a lâmina
  1. Artigo #4 - Ainda não publicado

Uma porta se abre

Até o mês passado, tinha uma carreira de 8 anos como psicólogo na prefeitura de Blumenau. Trabalhei também por alguns anos como Psicólogo Clínico, terapeuta mesmo. Agora, fui recém contratado pela T-Systems do Brasil, depois de passar os últimos 15 meses estudando alucinadamente.
notion image
 
Quem vê close, não vê corre. E agora que pude parar um pouco e respirar, quero falar um pouco desse corre. Mas antes de seguirmos adiante, preciso falar brevemente sobre mim.
Importante destacar que esse texto não é um elogio à meritocracia, e sei que cheguei onde cheguei não só por “esforço” meu, por mais dedicado que eu tenha sido. Ninguém começa “do zero”: por exemplo, antes de começar essa aventura, por eu já saber inglês, ou também saber formatar um computador desde a minha adolescência, meu “zero” já era muito mais à frente do que quem só sabe inglês do ensino médio, ou quem teve o único contato com tecnologia só pelo celular. O que quero deixar claro ao falar sobre mim é que o meu “zero”, minha posição inicial, ou em português claro, meus privilégios, permitiram essa história quase indolor.

Um pouco sobre mim

Olá Mundo! Meu nome é Tiago, homem cis solteiro sem filhos de 33 anos, e sem animais de estimação também. Moro sozinho: assim, tudo que preciso cuidar na minha rotina é de mim mesmo. Trabalho há oito anos como servidor público, então minhas ansiedades contratuais ou financeiras têm sido mínimas, especialmente porque eu vivo com muito pouco. Geralmente só carrego comigo o estresse inerente ao próprio trabalho, que vou falar um pouco mais sobre depois.
Meu dia a dia é tão estável quanto eu precisar que ele seja, e mantenho controle quase total sobre minha agenda.  Consigo me exercitar bem, dormir bem, comer bem. A rotina de estudos draconiana ao qual iria me submeter mais adiante foi muito fácil de manter justamente porque (quase) todas as outras áreas da minha vida já estavam perfeitamente alinhadas.
Me formei em Psicologia em 2014, e não demorou mais que um ano para entrar nesse trabalho após uma maratona de concursos públicos. Como não sabia exatamente no que eu iria trabalhar, ou com o quê, assim que passei no concurso, logo me apresentei ao trabalho, qualquer que fosse. Achava que psicólogos na prefeitura trabalhavam só com terapia, ou na área da saúde, e nem nunca tinha ouvido falar de CRAS, e CREAS. Ou de atendimento à vítimas de violência, atendimento esse que foi o meu fazer por 8 anos. Trabalhando com algo que nem imaginava fazer durante a faculdade. Por outro lado, quando era criança, tampouco tinha imaginado fazer Psicologia. Mas também, o que crianças sabem do mundo? Talvez um pouco menos que adultos: não muito.
Tantas decisões importantes e significativas em nossas vidas parecem ser tomadas ao acaso, ou que temos pouco controle sobre…não reflito sobre isso de um lugar de arrependimento, mas sim de curiosidade mesmo. Não acho que teria sido possível eu escolher coisas diferentes, porque eu era diferente, em lugares que não existem mais, sob influência de ideias que mal me recordo. O passado está gravado em pedra, mas o futuro ainda não está escrito.
Então, eis aqui um homem de 32 anos, em uma crise existencial de uma nova ordem, que terapia não bastaria para resolver. Eu evitava pensar no trabalho, evitava pensar no que eu queria mais da vida, porque no fundo eu sentia que não queria me comprometer com as conclusões que essa linha de pensamento me levaria. Às vezes, pode parecer ser mais fácil se dizer “perdido na vida”, fingir ignorância, quando no fundo se sabe algumas coisas que se quer, alguns “nortes” que se quer seguir. Essas palavras podem não servir para muita gente, mas no meu caso, eu evitava mesmo pensar em certas coisas por puro medo e covardia.
(in)Felizmente, chega um ponto que esses pensamentos tomam controle próprio, e não há distração capaz de te fazer parar de pensar. Entra a Coceira.
 

A Coceira

O que é uma coceira? Uma irritação, talvez de uma inflamação, um leve incômodo, uma micro perturbação…é bom coçar essa coceira de vez em quando mas, por vezes, ela só não vai embora. Se você coçar demais, pode até se machucar, trocar coceira por dor, mas ela ainda está lá. Se você ignorar, ela pode ir embora, por um tempo…mas meses depois, lá está ela, de volta.
notion image
Provavelmente você deve estar se perguntando “Tiago, mas que diabos de metáfora é essa?”. Perdoe o escritor que gosta de perder o tempo do leitor, eu faço isso apenas porque num futuro não tão distante serei forçado a escrever de maneira mais árida e técnica, então vou me divertir um pouco.
Quando falamos de coceiras da alma, talvez não existam só duas saídas: coçar ou ignorar. “Coçar”, nesse sentido psicológico, seria saciar superficialmente um impulso recorrente ou, n caso de sonhos, seria como aquela pessoa que gosta de falar de sonhos impossíveis, que nunca tentou nem sequer chegou a tentar ir atrás deles, como se o mero ato de falar sobre fosse prazeroso. É tipo um homem que diz amar o mar, sente que tem alma de marinheiro, mas que nunca saiu de sua casa nas montanhas.
Já fingir que a coceira não existe…talvez seja ainda pior. Ela sempre volta, com mais força, às vezes com outra forma, com outra irritação, com outra angústia…não recomendo.
Mas, e se ao invés de ficarmos nessa polarização entre a fantasia delirante da coceira que não leva a lugar nenhum, e a repressão de fingir que não há tal coceira, tivessem outros caminhos? E se tentássemos observar, entender e tratar elas com seriedade e com carinho? A minha coceira era “uma vida diferente”, mas eu com certeza não sei quais são as origens de todas as minhas coceiras…recomendo terapia caso algo do que disse tenha feito algum sentido!
Encarar a minha angústia foi a saída que tomei ano passado. Vou falar de algumas conclusões que cheguei naquela época sobre minha vida, e que acabaram por guiar todas as ações seguintes: eu quero mais da vida, e o que eu tenho não é o suficiente. A ideia de me aposentar no mesmo trabalho, na mesma cidade, que entrei com 25 anos, me perturbou profundamente. Como não sou herdeiro, preciso de uma profissão que me pague melhor, e que tenha mais flexibilidade de condições de trabalho. Quero uma vida de flexibilidade, maior liberdade, muito mais viagens e experiências.
Sendo honesto com a minha angústia, com os meus desejos, pude então ver um mapa de onde queria chegar mas… como?

O Plano

notion image
A conclusão que cheguei foi trabalhar com programação. Meu conhecimento com informática do dia a dia já era bem decente, conseguia formatar computadores, conseguia instalar ROMs no celular, mas fugia de terminais e de linhas de código. No geral, conhecimento rudimentar só de HTML mesmo. Tinha plena noção que eu não tinha noção nenhuma no que eu estava me metendo.
Tenho mais um tesouro que esqueci de mencionar anteriormente: um grupo de grandes amigos que estão ou estudando, ou trabalhando com programação, e logo fui falar com eles. Perguntei algumas perguntas clássicas sobre mudar de carreira, especialmente para tecnologia, ainda mais especialmente se uma pessoa tem formação em ciências humanas: “será que isso é pra mim mesmo?”, “será que é difícil demais?”, “será que é tarde demais pra mim?”, “onde começo a estudar?” etc.
O começo foi absurdamente angustiante. Eu não fazia ideia do que eu estava me metendo, não sabia como nem por onde começar a estudar. Recebi então recomendações de Podcasts e Vídeos (links ao final de cada artigo) que me deram uma base para me apoiar, até mesmo emocionalmente. Entendi que o que eu estava sentindo era normal, e que é um processo particular para muitos que começam essa jornada. Resolvido (em parte) medo paralisante, segui aos estudos.
Comecei a estudar sobre como aprender a aprender programação. Não me repeti à toa. Como estava entrando em uma área nova, da qual só tinha conhecimento superficial, é muito difícil saber quais são as melhores maneiras de se começar, priorizar e ordenar o que aprender. Existe muita coisa para aprender, o tempo e energia são limitados, como um novato vai saber qual aula é melhor para ele? Essa é a importância do Metaprendizado, ou o “aprender a aprender”, uma habilidade essencial para autodidatas.
Na internet, temos muito conteúdo. Muita informação. Mas transformar informação em conhecimento não é uma tarefa fácil. Você precisa de contexto, método, estudo e prática. Precisa de estrutura. Saber valorar o que é importante ou perda de tempo. Muitos influencers e youtubers são ótimas portas de entrada para te ajudar a se localizar nessa mata fechada, quando você não sabe o caminho.
Nesse processo, meu amigo André me recomendou o curso CS50 de Harvard, a Introdução a Ciência da Computação de lá é fornecida de maneira gratuita. Sem exagero, esse curso mudou minha vida.
Acredito que esse é um bom momento para ir encerrando este texto. Acabou ficando maior e mais pessoal do que imaginava antes de começar a escrever, mas acredito que esse nível de compartilhamento é importante.
No próximo artigo quero falar um pouco dos dois cursos que fiz em 2022, como ter passado por eles mudou minha percepção de mim mesmo e de minha competência, e que como é importante fazer muito, errar muito e errar rápido. Nos vemos na próxima!

Conteúdo bônus #1 - Podcasts!

Ao final de cada post quer deixar algumas recomendações de materiais que foram importantes nesse último ano!
Começo com podcasts porque eles foram o que mais me ajudaram no começo, na questão da motivação, de acreditar que é possível, e que muita gente que admiro seguiu um caminho parecido. Dou ênfase no começo justamente para aqueles podcasts que tem por objetivo aumentar a diversidade nesse mundo que é tipicamente visto como coisa para brancos privilegiados.
Quero Ser Dev
  • Descrição: Este podcast objetiva elucidar os desafios e satisfações do processo de se tornar um desenvolvedor web. Com foco em inspirar mulheres a entrar no mercado de tecnologia, o programa é hospedado por Simara Conceição e convida mulheres com diferentes experiências para discutir suas trajetórias profissionais na área de tecnologia.
PodProgramar
  • Descrição: Apresentado por Jessi Zanelato e Ana Eliza, o PodProgramar se destina a cobrir tópicos relacionados à programação, notícias do setor e histórias de vida, tudo sob uma perspectiva feminina em um campo predominantemente masculino.
Dev na Estrada
  • Descrição: Publicado todas as sextas-feiras, o Dev na Estrada aborda temas variados relacionados a tecnologias e realiza entrevistas com profissionais do setor, sempre com um tom descontraído e amigável.
Diocast
  • Descrição: Este podcast focaliza no universo Linux e temas correlatos à tecnologia, proporcionando informações e análises profundas para os ouvintes interessados no tema.
Hackers Brasil
  • Descrição: Com o intuito de explorar o ecossistema hacker brasileiro, este podcast realiza entrevistas com personalidades e especialistas do campo, oferecendo insights valiosos sobre o mundo do hacking.